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O que me incomoda no projecto do novo museu dos coches não é o projecto do novo museu dos coches. É, isso sim, o processo que está na sua génese e que lhe dá razão de existir. Obras de(o) Regime sempre as houve e vão continuar ser realizadas e pensadas(?). A arquitectura em Portugal, aquela da qual se fala, se ensina e se estuda, resulta da encomenda e do financiamento do Estado (monárquico ou republicano) e do Clero. Fora deste eixo, existem casos e obras dignas de referência é verdade, mas poucas e de contexto especifico. Note-se que, por ex., para o CCB foi realizado um concurso público (restrito, é verdade, mas ainda assim um concurso). Tal como para a Casa da Musica (dois exemplos recentes e de envergadura semelhante). Ora é aqui que reside um dos dois vectores do meu descontentamento. Entregar uma obra desta envergadura directa e solitáriamente a um arquitecto, nacional ou estrangeiro, pressupõe (ou devia…) um conhecimento da sua obra, da sua metodologia de trabalho. Supõe que o resultado final será sempre do “agrado” do promotor (sendo esta como é uma encomenda pública). Devia, isso sim, ter sido realizado um concurso (aberto ou restrito, enfim) de arquitectura para este caso. Como forma de potenciar a discussão e asserção da melhor solução possível. Mas uma vez mais, tal como aconteceu com a Casa da Música, não se aclara algo absolutamente indispensável: o programa. A sua pertinência, exequibilidade e razoabilidade – financeira e museológica. E o porquê, já agora, de ser o ministério da Economia (!?) a responsabilizar-se pela encomenda desta obra. Porque, e colocando-me na pele de P. M. da Rocha, se o programa é claro (de ponto de vista do promotor) e se os prazos são exíguos (2010, Comemoração do centenário da implantação da Republica), pouca coisa mais há a fazer do que pôr mãos-à-obra e dar razão à encomenda.
Via oasrs
O segundo vector do meu descontentamento prende-se com a falta de uma visão global e integrada da cidade e dos seus elementos constituintes. Esta poderia ser muito bem a oportunidade para pensar Belém e a plataforma que vai desde o Porto de Lisboa (outra bela estória…) até à Docapesca como um “Bairro de Museus” de Lisboa (com o pensamento em Viena ou Madrid, por ex). Que sentido por exemplo faz hoje toda a zona em frente aos Jerónimos não estar ainda pura e simplesmente restrita a peões e a transito especifico? E a linha do comboio? O seu enterramento neste troço poderia ser equacionado? É disto que eu falo. É disto que deveríamos falar. Porque a arquitectura começa aqui.
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