março 05, 2009

Abertura

“Falemos de casas , do sagaz exercício de um poder
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo .
Estes são os arquitectos , aqueles que vão morrer ,
sorrindo com ironia e doçura no fundo
de um alto segredo que os restitui á lama .
de doces mãos irreprimíveis .
- Sobre os meses, sonhando nas ultimas chuvas,
as casas encontram seu inocente jeito de durar contra
a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras .

Estas são as casas .
E se vamos morrer nós mesmos,
espantamo-nos um pouco , e muito, com tais
arquitectos que não viram as torrentes infindáveis
das rosas , ou das águas permanentes,
ou um sinal de eternidade espalhado nos corações rápidos .
- Que fizeram estes arquitectos destas casas ,
eles que vagabundearam pelos muitos sentidos dos meses,
dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra , aqui outra ,
para que se faça uma ordem , uma duração ,
uma beleza contra a força divina ? “
.
Herberto Helder, Poesia Toda

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