março 31, 2009

A vitória moral

.
Hoje é foto de capa nos mais importantes jornais diários deste país a prestação de um desportista numa competição internacional. E que feito conseguiu esse atleta para merecer tal honra?

"Deu que fazer" ao adversário.

Tive o prazer de acompanhar o jogo em directo. Porque sou fã do desporto em causa. Porque o já pratiquei. A evolução do Frederico Gil em sido muito interessante. Principalmente nos tempos mais recentes. É um facto. Não está em causa. Está em causa isso sim o tratamento dado à noticia. E que noticia é essa? Que ele perdeu. Que ele não ganhou um único set. Mas, atenção, ele deu trabalho ao número um do mundo. Chateou-o. Manteve-o ocupado durante quase 90 minutos. É obra!

Não raras as vezes sinto que muitos portugueses acham que não serão, que não têm capacidade para mais do que isto: serem matéria e motivo de troça.

Eu por mim gostava que da próxima vez que ambos se encontrem em competição, a luta fosse outra. Os objectivos fossem outros. Que se lute pela vitória. Abertamente.

Porque essa é a única luta que interessa. Tudo o resto são apenas as pedras do caminho. Embora nem todos tenham a capacidade para tal trajecto.
.

março 30, 2009

Uma revolução caseira

.


Num momento onde a super abundância e variedade de alimentos caracteriza uma parte significativa da nossa (Ocidente) forma de viver, mas onde poucas pessoas se questionam sobre as rotas e as proveniências dos alimentos que temos à nossa disposição num mercado normal e onde cada vez mais se procuram outras formas de cultivo e exploração (transgénicos) é importante passar a mensagem: How much is enough? De quanto é que necessitamos para a nossa sobrevivência saudável e para o nosso (simples) bem estar? É legitimo que para termos à nossa disposição uma (quase) infinita variedade e disponibilidade de alimentos e bens de consumo, que para isso tenhamos que comprometer a pura e simples sobrevivência e sustentabilidade de outros lugares algures no planeta, só porque estão longe? Só porque nos apetece?

É necessário passar esta mensagem. Temos direito apenas ao necessário. O supérfluo pode e deve ser reduzido ao mínimo. Em nome da segurança e do bem-estar colectivos.

março 29, 2009

O professor


A cada jogo que passa, a cada remate, em cada momento parecemos condenados ao regresso a um passado não muito longínquo.

Volta a matemática.

Voltam as desculpas.

Somos de novo a melhor selecção do mundo a jogar futebol sem balizas.

Viva Portugal!

.

março 28, 2009

Pôr o carro à frente dos bois

.


O que me incomoda no projecto do novo museu dos coches não é o projecto do novo museu dos coches. É, isso sim, o processo que está na sua génese e que lhe dá razão de existir. Obras de(o) Regime sempre as houve e vão continuar ser realizadas e pensadas(?). A arquitectura em Portugal, aquela da qual se fala, se ensina e se estuda, resulta da encomenda e do financiamento do Estado (monárquico ou republicano) e do Clero. Fora deste eixo, existem casos e obras dignas de referência é verdade, mas poucas e de contexto especifico. Note-se que, por ex., para o CCB foi realizado um concurso público (restrito, é verdade, mas ainda assim um concurso). Tal como para a Casa da Musica (dois exemplos recentes e de envergadura semelhante). Ora é aqui que reside um dos dois vectores do meu descontentamento. Entregar uma obra desta envergadura directa e solitáriamente a um arquitecto, nacional ou estrangeiro, pressupõe (ou devia…) um conhecimento da sua obra, da sua metodologia de trabalho. Supõe que o resultado final será sempre do “agrado” do promotor (sendo esta como é uma encomenda pública). Devia, isso sim, ter sido realizado um concurso (aberto ou restrito, enfim) de arquitectura para este caso. Como forma de potenciar a discussão e asserção da melhor solução possível. Mas uma vez mais, tal como aconteceu com a Casa da Música, não se aclara algo absolutamente indispensável: o programa. A sua pertinência, exequibilidade e razoabilidade – financeira e museológica. E o porquê, já agora, de ser o ministério da Economia (!?) a responsabilizar-se pela encomenda desta obra. Porque, e colocando-me na pele de P. M. da Rocha, se o programa é claro (de ponto de vista do promotor) e se os prazos são exíguos (2010, Comemoração do centenário da implantação da Republica), pouca coisa mais há a fazer do que pôr mãos-à-obra e dar razão à encomenda.


Via oasrs

O segundo vector do meu descontentamento prende-se com a falta de uma visão global e integrada da cidade e dos seus elementos constituintes. Esta poderia ser muito bem a oportunidade para pensar Belém e a plataforma que vai desde o Porto de Lisboa (outra bela estória…) até à Docapesca como um “Bairro de Museus” de Lisboa (com o pensamento em Viena ou Madrid, por ex). Que sentido por exemplo faz hoje toda a zona em frente aos Jerónimos não estar ainda pura e simplesmente restrita a peões e a transito especifico? E a linha do comboio? O seu enterramento neste troço poderia ser equacionado? É disto que eu falo. É disto que deveríamos falar. Porque a arquitectura começa aqui.



A cidade é de todos

Especialmente daqueles que nela trabalham, passeiam e dela disfrutam. Ou vão tentando...



Humor colorido

O ken, a barbie e os dois ursos amansados. Todos juntos num caldo de cores.



março 24, 2009

Diálogo afectivo

.
- Tenho medo.
- Tens medo? Medo, mas de quê? Da morte, do escuro?
- De fazer as opções erradas. De, certo dia, num futuro mais próximo que longínquo, ao olhar pelo retrovisor me arrepender das direcções que tomei.
- Pois, mas sabes, medo de errar é receio de viver.
- Sim, eu... sei. Eu (suspiro) preciso de pessoas. Preciso que precisem de mim. Que me dêem valor, atenção, ajuda. Tu sabes, aquelas minhas carências afectivas. O que vem dos outros é sempre por acréscimo.
- Eu estou aqui. Contigo. Eu dou-te importância.

(suspiro)

Troca de olhares.

- Já agora sabes que se não me engano foi o Einstein que disse que só um homem sem imaginação é que não tem medo do escuro.
- Isso é relativo...

(sorrisos mútuos)
.

março 22, 2009

Pausa publicitária

Campanha de partilha de lugares nas deslocações diárias de automóvel. Inscrição gratuita em: http://www.energiapositiva.pt/



março 21, 2009

Mudar de estação

Partir de uma simples e banal publicidade radiofónica a uma rádio nacional e conseguir criar à sua volta toda uma complexa e elaborada rede conspirativa em favor do governo da Nação e do seu suposto controlo sobre os elementos dessa própria rádio (e do marketing a ela associado, já agora) diz muito, mas muito, do tipo e da elevação da discussão politica em Portugal. E, já agora do clima social em que vivemos. A paciência, meus senhores, tem limites.
.

março 19, 2009

Desafio

Seguindo o desafio da minha mui querida prima aqui deixo o enigma: seis factos sobre a minha pessoa. Quatro deles são verdadeiros, os outros dois, bem, nem tanto. Aceitam-se apostas.

1. Tenho vertigens

2. Tudo o que faço ou medito fica sempre pela metade

3. Detesto viagens. Tudo o que implique mudar de lugar e de sofá.

4. Casado. Dois filhos

5. Tenho poucas pessoas a quem chamar amigo

6. Sou honesto. Sincero. Cruel e sarcástico se possível.

.

Um dia o mar

.


Let it die and get out of my mind
We don't see eye to eye
Or hear ear to ear
.
Don't you wish that we could forget that kiss
And see this for what it is
That we're not in love
.
The saddest part of a broken heart
Isn't the ending so much as the start
.
It was hard to tell just how
I felt To not recognize myself
I started to fade away
.
And after all it won't take long to fall in love
Now I know what I don't want
I learned that with you
.
The saddest part of a broken heart
Isn't the ending so much as the start
The tragedy starts from the very first spark
Losing your mind for the sake of your heart
The saddest part of a broken heart
Isn't the ending so much as the start
.

.

março 18, 2009

A (verdadeira) face do monstro


Todos já tínhamos visto a sua cara.

A sua história havia já sido contada e escalpelizada e mentalmente anotada por todos. Os factos, os pormenores, os detalhes mais íntimos e mórbidos. E no entanto criou-se nos últimos dias este suspense pelo facto de ele não revelar a sua face. De a sonegar das vistas alheias do mundo que de repente o rodeia e por ele se interessa. Aquela capa arquivadora azul, por detrás da qual ele se refugia nada mais esconde do que a sua própria cobardia, do que a miséria do seu espírito, que, quando descoberto das muralhas de sua casa, quando despido perante as objectivas e as câmaras, não as consegue enfrentar. Por pavor de si próprio.

Mas não criemos ilusões. É um erro chamarmos-lhe monstro. É fácil, conveniente mesmo atribuirmos-lhe tal denominação. É esquecer o monstro que temos dentro de nós. É fácil erguer o dedo indicador e apontar. Puxar da imaginação e sugerir um sem número de penas, punições e castigos para os actos que ele praticou. Esquecemo-nos, ou preferimos não recordar as nossas próprias barbaridades ou os nossos crimes. A nossa ignorância. E o quanto foi essa ignorância responsável por outras tantas barbáries ao longo da História.

O silêncio que nos acompanha, aquela dose de ignorância e indiferença que todos provisionamos e armazenamos na saída de casa a caminho do emprego e da escola, rumo à cidade.

A cidade. Esse lugar agreste e desagradável onde somos confrontados com a pobreza e a solidão e o desespero de outros, humanos como nós, de carne e osso. Pele e cabelos. Talvez sem o cuidado e a atenção com que nós reservamos ao nosso próprio cabelo e à nossa própria pele.

Monstros? Somos todos monstros. Na ignorância com que levamos o nosso dia-a-dia, com as nossas miseráveis e entretidas ninharias, e os nossos problemas. E as nossas angústias.

Problemas? Quais problemas? Já levantaste a cabeça hoje? Já retiraste os olhos das pedras que diariamente amolgas e esmagas e já olhaste em teu redor? Diz-me tu, o que fizeste hoje por outra pessoa. Por alguém que não conheces e que não podes influenciar por acção directa dessa tua caridade que nada mais é do que hipocrisia e soberba. Sim. Que acção – pergunto eu, fizeste tu hoje a alguém teu semelhante, da qual nada esperes em retorno. Da qual não fiques a contar o favor. A pesar pela retribuição. Hmmm?

Amanhã, quando o sol raiar e chegar o momento de uma vez mais partires rumo à cidade não te esqueças da capa arquivadora. Azul ou de outra cor que te agrade.

Amanhã, por um dia que seja, mostra a tua vergonha e a tua indiferença pelo mundo que te rodeia.

Amanhã o monstro serás tu.

Reticências. Muitas ...

.
É pá, atenção, vocês não me estraguem isto.
Por favor ok.
Este é o meu super-herói favorito.
O único aliás.


março 16, 2009

Outras casas (1)

Casa Malaparte, Capri

(...) There were quite a few problems to be solved and they were not easy. To start with, there was the positioning of the house to consider, because a choice had to be made between the two winds which often sweep across the area, from the North West and the South West . And I preferred to tackle them sideways on, by positioning the house so that its corners would bisect the four points of the compass. As regards the shape of the house, this was dictated by the formation of the rock, by its structure, by its gradient, and by the ratio between its sixty metre length and its twelve metre width. I went for length, making it ten metres wide and fifty four metres long. And since there is a certain point where the rock is linked to the mountain, where the crag tails off into a curve, forming something of a slender neck of rock, I decided to have a triangular stairway built there, which leads down from the upper edge of the roof terrace.


Curzio Malaparte, A house between the North-East and South-East winds



Jean-Luc Godard, Le Mépris, 1963

.

Solidão

.
"a solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós, a solidão não é uma árvore no meio da planície onde só ela esteja, é a distância entre a seiva profunda e a casca, entre a folha e a raiz. "

José Saramago, O ano da morte de Ricardo Reis, Ed. Caminho
.
.

Mais olhos que barriga

março 14, 2009

2009, ano Mendelssohn

Compositor alemão

Anne Sophie Mutter
Concerto para violino em mi menor, op 64
1ª parte

2ª parte

Protestar sim, mas com aviso de antecedência

...e, já agora, carta registada e pedido de desculpas por escrito. S.f.f.


A vida por um sonho, o sonho de uma vida.





Dia, 7 de Agosto. Ano, 1974. Nova Iorque. World Trade Center. Torre Norte.
A 417 metros de altura Philippe Petit coloca o pé sobre o cabo de aço previamente montado com a ajuda de três companheiros. Durante os 45 minutos seguintes, e por oito vezes ele vai realizar o percurso de ida e volta entre as duas torres. Com nada mais do que ar a protegê-lo de uma queda. E uma vara de oito metros e dez quilos como contrapeso. Quatrocentos e dezassete metros abaixo dele, o chão de Nova Iorque. E uma multidão que se vai reunindo, boquiaberta e com nítidas dificuldades em entender que coisa é aquela que permanece estranhamente suspensa no vazio que intermeia as torres que só muito recentemente preenchem um céu nova-iorquino em constante mudança. Seis meses antes, em Janeiro, Philippe tinha feito a sua primeira viagem a Nova Iorque. Ficara deslumbrado com a visão daqueles dois monólitos que verticalmente se imponham no perfil da cidade. A vontade da proeza que meio ano mais tarde viria a cometer deve ter surgido quase instintivamente. Afinal de contas elas, as torres, sempre “estavam ali”, então porque não atravessá-las? O risco inerente à missão era apenas uma parte da tarefa. Durante os seis meses seguintes, a preparação tem lugar. É preciso recolher toda a informação possível sobre as torres, que estavam apenas parcialmente terminadas, embora já oficial e pomposamente inauguradas a 4 de Abril do ano anterior, 1973, pelo então presidente Nixon. Plantas, fotos, desenhos, inclusive uma maqueta que ocupava parte considerável do pequeno apartamento de Petit em Paris. Ignorando todos os avisos e reticências de seus amigos e companheiros a missão estava em curso. Era preciso agora fazer o reconhecimento factual e presencial dos edifícios. Conhecer as rotinas da segurança - o complexo tinha o seu próprio posto de policia, tal era o número de pessoas que diariamente usufruíam do edifício, em trabalho ou de passagem rumo ao miradouro ou ao restaurante que existiam respectivamente nas torres sul e norte. Seria necessário levar todo o equipamento para o topo das torres sem despertar qualquer indicio de suspeita nos guardas e na segurança privada do complexo. Esta seria de longe a tarefa mais complicada. Tal como um ladrão de bancos, cuidadosamente ele planeara o seu golpe. A recompensa, essa, seria outra que não a monetária.
Hoje o vazio sobre o qual pairou Philippe é diferente. As torres, que se esperaria que perdurassem ao feito do funâmbulo já lá não estão. Caíram subjugadas pelo peso da ignorância, da estupidez, da maldade e da crueldade de outros homens, com outros propósitos. Outros ideais.




O filme sobre a proeza de Philippe Petit estreou recentemente.
Entre vários prémios a ele atribuídos, encontra-se o Oscar de melhor Documentário na cerimónia deste ano. Em Portugal o filme está em exibição apenas em duas salas de Lisboa.

março 13, 2009

o Mal

...........................

"Há pessoas cujos móbiles não merecem a indagação, ainda que as tenham levado a cometer actos terríveis ou precisamente por isso. Isto, bem sei, vai totalmente contra a tendência actual. Hoje em dia toda gente se interroga sobre o que leva um assassino reiterado ou maciço a assassinar maciça ou reiteradamente, ou um coleccionador de violações a aumentar continuamente a sua colecção, um terrorista a desprezar todas as vidas em nome de alguma primitiva causa e acabar com o maior número possível delas, um tirano a tiranizar sem limites, a um torturador a torturar sem limites, quer o faça burocrática, quer sadicamente. Há uma obsessão por compreender o odioso, no fundo há uma malsã fascinação por isso, e com isto faz-se um imenso favor aos odiosos. Eu não compartilho essa curiosidade infinita do nosso tempo pelo que em nenhum caso tem justificação, ainda que se lhe encontrem mil explicações diferentes, psicológicas, sociológicas, sociológicas, biográficas, religiosas, históricas, culturais, patrióticas, politicas, idiossincráticas, económicas, antropológicas, vem a dar no mesmo. Eu não posso perder o meu tempo a indagar o que é mau e pernicioso, o seu interesse é sempre mediano no melhor dos casos e amiúde nulo, garanto-lhe, vi muita coisa. O mal costuma ser simples, embora às vezes não tão simples, se fores capaz de apreciar o cambiante. Mas há indagações que mancham, e até as há que contagiam sem dar nada de valioso em troca. Hoje existe um gosto de se expor ao mais baixo e vil, ao monstruoso e ao aberrante , por assomar a contemplar o infra-humano e por o roçar como se tivesse prestigio ou graça e maior importância que os cem mil conflitos que nos assediam sem cair nisso. Há nesta atitude um elemento de soberba, também, mais um: mergulha na anomalia, no repugnante e mesquinho como se a norma fosse a do respeito e da generosidade e da rectidão e houvesse que analisar microscopicamente tudo quanto sai dela: como se a má-fé e a traição, a malquerença e a vontade de fazer mal não fizessem parte dessa norma e fossem coisas excepcionais, e merecessem por isso todos os nossos desvelos e a nossa atenção. E não é assim. Tudo isso faz parte da norma e não tem mistério por aí além, não maior que a boa fé. Mas esta época está devota à tolice, ao obvio e ao supérfluo e assim nos corre a vida. As coisas deviam ser antes ao contrário: há acções tão abomináveis ou tão desprezíveis que a sua mera comissão devia anular qualquer curiosidade possível pelos que as cometem, e não criá-la nem suscitá-la, como tão imbecilmente sucede hoje."

Javier Marías, O teu rosto amanha - Febre e Lança". Ed Caminho. 2007

Observando a atenção mediática que normalmente rodeia actos como o recente tiroteio em Estugarda, e discutindo a natureza e móbil de tais actos com outras pessoas, recordo-me com frequência deste trecho do primeiro livro da trilogia de Javier Marias, onde o personagem Jacques Deza questiona e desconstrói o hábito que criou rotina neste nosso tempo de tentar, com o uso dos mais variados especialistas e teorias, explicar o porquê do mal. Como se ele, o Mal, não fosse elemento inerente à própria essência e formulação do ser humano. Pergunto-me se não vivemos hoje n’A Vila, o filme de M. Night Shyamalan, onde uma comunidade isolada do resto do mundo cria os seus próprios monstros por forma a manter uma suposta normalidade e status social e inter-relacional.

março 11, 2009

março 05, 2009

O buraco da crise


...............

Situado em plena baixa de Chicago, nas proximidades do lago Michigan, aquele que estava previsto ser o mais alto edifício na América resume-se neste momento a um enorme... buraco. Um projecto da autoria de Santiago Calatrava, a Chicago Spire é um complexo de escritórios e residências com 150 andares e 610 metros de altura. A construção teve inicio em 2007 e estava prevista a finalização para o segundo semestre de 2011, mas desde o final de 2008 por força de dificuldades de financiamento ela encontra-se embargada. Os problemas começaram quando o Anglos Irish Bank, entidade bancária que havia tomado parte no financiamento da totalidade do complexo, entrou em processo de falência na sequência da crise do sub-prime. Aliás todo o processo de financiamento bancário que rodeou a construção do complexo é um exemplo da matriz da própria crise. O projecto foi aprovado e a construção teve o seu inicio sem que se cumprisse a regra de 50% de apartamentos previamente vendidos. No momento da aprovação apenas um terço dos 1200 luxuosos apartamentos tinham contratos de venda assinados. Parte considerável das esperanças dos promotores imobiliários estão agora depositadas na possível vitória de Chicago como cidade-sede das Olimpíadas em 2016.
.

Abertura

“Falemos de casas , do sagaz exercício de um poder
tão firme e silencioso como só houve
no tempo mais antigo .
Estes são os arquitectos , aqueles que vão morrer ,
sorrindo com ironia e doçura no fundo
de um alto segredo que os restitui á lama .
de doces mãos irreprimíveis .
- Sobre os meses, sonhando nas ultimas chuvas,
as casas encontram seu inocente jeito de durar contra
a boca subtil rodeada em cima pela treva das palavras .

Estas são as casas .
E se vamos morrer nós mesmos,
espantamo-nos um pouco , e muito, com tais
arquitectos que não viram as torrentes infindáveis
das rosas , ou das águas permanentes,
ou um sinal de eternidade espalhado nos corações rápidos .
- Que fizeram estes arquitectos destas casas ,
eles que vagabundearam pelos muitos sentidos dos meses,
dizendo: aqui fica uma casa, aqui outra , aqui outra ,
para que se faça uma ordem , uma duração ,
uma beleza contra a força divina ? “
.
Herberto Helder, Poesia Toda

users

ecoestadistica.com