. Na sequência
desta noticia sobre o aumento no volume de emissões de gases para atmosfera, nomeadamente em relação aos transportes rodoviários, e no i
nevitável aumento da poluição sonora e da
destruição de habitats e provavelmente o comprometimento da flora e fauna nas suas proximidades, seria importante até pelos investimentos de grande escala que estão previstos para os
próximos tempos ( e estou a falar nomeadamente do
TGV, do novo aeroporto de Lisboa, da actual fase da rede rodoviária
nacional, entre outros) olharmos para o panorama de deslocamentos
viários e populacionais em Portugal.
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Analisando o relatório da EEA ele traz algumas conclusões interessantes para percebermos quanto o nosso estilo de vida e a nossa relação com o território que ocupamos e onde vivemos é neste momento tão desequilibrada e tantas vezes irracional.
Olhemos então para os números e para os factos: (os números são do ano 2000)
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Um português percorre em média ao longo do ano 29 km em bicicleta. Um número razoável quando comparando com espanhóis e luxemburgueses. Olhando para cima é no entanto abismal a diferença para com o topo da tabela. Um dinamarquês percorre em média 936 km em cima de uma bicicleta por ano. Sim (agora por extenso) novecentos e trinta e seis quilómetros por ano. É caso para pensar, ginásio para quê...
Saltemos da bicicleta e caminhemos um pouco. O português em média faz 342 km de caminhadas e passeios por ano. Neste particular os luxemburgueses abandonam a nossa companhia e saltam para o topo. Fazem mais de 100 km extra em comparação com um cidadão em Portugal, são 452 km anuais de ténis e sapatos gastos no Luxemburgo.
gráfico 1 - nº de km percorridos em bicicleta, por pessoa
gráfico nº 2 - nº de km percorridos a pé, por pessoa
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Outros dados que merecem o cuidado e a interpretação são por um lado o montante investido na rede de transportes e por outro lado forma e o meio que as pessoas usam para se deslocarem.
Em primeiro lugar (gráfico 3) é possível perceber a discrepância entre os valores investidos ao longo da ultima década e meia em caminhos de ferro e em estradas. Se por um lado esse valor aumentou de forma proporcional em relação a ambos os casos (quadruplicou) por outro lado a diferença entre os fundos monetários utilizados para a rede viária é mais de quatro vezes superior aqueles investidos para a rede ferroviária nacional. Isto teve como consequência quase imediata e natural um aumento na preferência pelo transporte individual - automóvel - em detrimento dos transportes colectivos, rodo ou ferroviários. Em 1992 as opções de transporte e deslocação estavam assim organizadas: (gráfico 4)
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54.6% dos portugueses deslocavam-se de automóvel,
20.5% de autocarro
11.3% de comboio
13.7% por avião
já em 2004 os valores eram os seguintes:
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68.7% dos portugueses deslocavam-se de automóvel,
11.1% de autocarro
3.8% de comboio
16.5% por avião
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A comparação é deveras clara e arrasadora. nos últimos 15 anos os portugueses progressivamente preferiram o transporte individual ao colectivo. Pior ainda o mais poluente (automóvel e avião) ao menos poluente (autocarros e comboio)
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gráfico 3 - Investimentos realizados na rede viária e ferroviária entre 1992 e 2004
gráfico 4 - transporte de passageiros nos diversos meios de transporte em %
Em conclusão, a ocupação do nosso território disponível é feita na grande maioria dos casos de uma forma irresponsável e ilógica. De igual forma nenhuma das nossas grandes cidades foi ou está preparada para o fluxo automóvel que recebe e nela transita diariamente. Isto é claro pela forma e traçado das principais vias que atravessam e na maioria dos casos "rasgam" as nossas cidades, acentuando diferenças e disparidades sociais e económicas. O automóvel chegou tarde e impôs-se não só como forma de deslocação de pessoas e mercadorias, mas, e este é o aspecto mais importante, como assunção da individualidade. Da liberdade. Liberdade de movimento e de afirmação pessoal e profissional. Ter um automóvel próprio significa possibilidade de movimentação livre e descomprometida. Significa igualmente maior proximidade profissional, familiar e intersocial. É este paradigma actual que deve ser colocado em causa.
O relatório é de 2008 e está disponível aqui
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